Por Laura Lucy Dias
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O
livro conta a jornada do narrador, que está em primeira pessoa, a partir do
momento em que encontra o jovem príncipe deitado à beira da estrada rumo à
Patagônia. O garoto voltou à Terra para procurar o aviador e perguntar o motivo
de ele ter-lhe dado uma caixa na qual não cabia um carneiro. Fato que ele
descobriu apenas depois de ser elucidado por uma erva daninha que tinha uma
foto de um garoto com um carneiro de verdade. Ele acabou por perder sua alegria
e deixar de cuidar de seu planeta e de sua rosa, até resolver voltar e
perguntar o motivo de o aviador tê-lo “enganado”.
Agora
observemos certos problemas da trama: o jovem não conhece algumas palavras como
“problema” e “trem”, mas conhece outras como “providências” (no sentido
religioso), “destino”, “inferno” e outras de conceitos mais subjetivos que as
que ele desconhece. De fato se torna estranho pensar que ele é tão ingênuo em
certos casos e em outros, tão maduro. Outra coisa que causa estranheza é a
questão de que o narrador, homem comum - como se mostra -, ser sábio como
poucos e abordar temas como “felicidade”, “polidez e amor ao próximo”, “desapego
material”, etc, com ensinamentos de professor e guru espiritual.
A
terceira seria a questão religiosa que é apresentada pelo cristão narrador. Não
há como comparar a linha de produção do autor do original para o autor da obra
inspirada no original.
De
fato o que acontece com leitores mais críticos (e que esperavam encontrar o
mesmo estilo do original) é uma desconfiança das intenções do narrador. Acabou por
fechar a mente do leitor não religioso, não permitindo-lhe se deleitar do
prazer da autoajuda e moralização que o livro pretende.
Não
há como negar que o trabalho de maêutica da personagem do pequeno/jovem
príncipe, ao colocar o interlocutor a pensar em conceitos diversos em relação a
si mesmo, faz com que seja despertado um entendimento profundo e interior, como
o que acontecia com os alunos do filósofo Sócrates.
O
pequeno e o jovem príncipe são muito diferentes, e isso não tem ligação com a
questão de estar desapontado, pois sua construção foi feita de maneira
diferente em cada livro. Se formos analisar a questão da realidade (discutida
no início do livro), podemos entender o planetinha
do garotinho, que ligado à psicologia apenas demonstra o que acontece dentro do
ego infantil, limitando o mundo da criança ao EU e ignorando ao OUTRO. O jovem
vem para um mundo maior, onde existe o OUTRO: Ele passa da fase inicial e
evolui, para acabar na Terra como mais um humano (só que de categoria elevada).
A
descaracterização das questões de imaginação e de acreditar nas coisas como uma
criança acabou por desconfigurar a personagem, assim como as questões de
cativar e ser responsável pelo próximo, que é a maior aprendizagem do original.
Claro que são obras diferentes e com objetivos claramente próprios de cada um,
mas acabamos apenas lendo um grande discurso de um homem que responde às perguntas,
e percebe o quanto é hipócrita por suas
atitudes não condizerem com suas crenças, mas descobre que é muito sábio em
relação à toda a teoria (ou teologia?).
Não
assisti aos desenhos, por isso não há como comparar algo por aqui, porém sendo
humana, com uma cultura comum e nada elevada, mas com um superego bem
desenvolvido e uma desconfiança nata, deixo o link
de um texto de Martha Medeiros, para contrapor a questão da confiança, só pude
pensar nele depois que comecei a desconfiar do narrador.
O
autor dO Retorno do Jovem Príncipe é
muito bom em seu intento, o livro é agradável, nada surpreendente (como já li
por aí sobre a obra), mas rápido de ler e levanta questões muito fortes, e por
fim acaba por dizer: amai ao próximo como a ti mesmo.
(Algumas citações, fotografadas pelo celular, enquanto eu o lia)
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