Lei de direitos autorais

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5 de ago. de 2014

A menina que roubava livros: livro x filmeA menina que roubava livros: livro x filme



 Por Laura Lucy Dias

Essa é uma resenha crítica e poderá conter spoilers. Não contarei nada sobre o livro, mas as comparações e os itens contados são reveladores, e se darão sobre os itens textuais, de adaptação e sobre as histórias contadas.

Para começar, eu vi o filme primeiro, na semana do lançamento. O livro vim a ler agora, terminei ele anteontem (3/8/2014). O filme é lindo, uma boa adaptação, mas como acontece com outro filme/livro que amo – o “A casa dos espíritos”, com as lindíssimas Meryl Streep, Glenn Close – não há como abranger todo o conteúdo, e assim o roteirista tem que se virar para manter a essência do livro no filme, sem prejudicar, mesmo que a adaptação seja drástica como em muitos casos.

Primeiramente o livro tem quase 400 páginas, e passasse por vários anos. O filme tem apenas a duração básica de pouco mais de uma hora, quase duas. Não há como fazer milagre, por isso a gente começa a perdoar. Mas o que não perdoo foi a alteração da voz do narrador. Na quarta capa já se sabe que o livro é narrado pela morte, não é? Então... no livro ela se dirige a si mesma como um ser feminino. No filme colocaram a voz masculina, e isso, ao comparar com o livro e o desenvolvimento do narrador personagem (é, ela é personagem, sim) do livro, não haveria como ser um ser de princípio masculino. Isso me ultrajou como mulher e especialista em literatura.

Mas passamos por isso e vemos acontecerem muitas coisas. O que mais me agradou no filme foi o Elenco: Papai com o Geoffrey Rush (me delicio a ver seus filmes em inglês, sua dicção é envolvente, linda) e Mamãe com a Emily Watson (Já viu “Dragão vermelho”? Veja, ela dá um show. Fora que amo esse filme que tem outras feras inigualáveis.). A menina é lina, mas nada de magricela como a Liesel, pois deve ter um problema sério de colocar atores normais – isso é feito em “The Orange is the new Black”, mas só para maiores -  para ser o personagem principal, tanto que o fizeram com os outros atores e no filme “A culpa é das estrelas”. Ter câncer terminal e manter aquela forma? Tão idealizado quanto irreal.

Outras adaptações que foram inteligentes no filme são os acontecimentos que vêm no livro através de uma narrativa psicológica (narrativa no ritmo da memória, diferente da cronológica que acontece com o decorrer do tempo, acontecimento após acontecimento, sem ir e voltar no tempo). Por exemplo, quando Rudy faz a vez de Jesse Owens no livro, a Liesel não havia chegado à Molching, mas no filme colocaram a situação como cronológica. O filme é cronológico, acho que só para alguns momentos há uma memória, mas não lembro-me bem.

De fato chorei muito no filme, ainda mais pelo fim de Papai, amo este ator, não o matem mais! Que seja no filme não se pode aprofundar muito nas personagens que ali estão, ao contrário do livro. Além de as situações ficarem inusitadas, a Liesel não conta histórias da cabeça dela, ela simplesmente lê seus livros, ela também não é roubadora de livros, a mulher do prefeito sabia dos roubos, se torna a roubadora de livros devido ao fato de ela ser uma ladra devido as circunstancias de sua vida e da dos demais adolescentes daquela região em meio a uma guerra. Ela se torna roubadora em seu próprio livro, perdido ali na explosão em que há a fatalidade de faze-la a única sobrevivente de sua rua Himmel.

No livro chorei quando ela foi levada para o funeral, omitido no filme. Não lembro no filme como acaba, mas ela fica com a mulher do prefeito e ele, convive com o pai de Rudy e realmente reencontra com Max, ao findar a guerra.

Essas são minhas premissas sobre a comparação, agora falando da genialidade do livro e seu autor, não sei se há muitas narrativas assim, mas é muito bem encadeada e me trouxe surpresas. A literatura tem se permitido cada vez mais a subverter regras editoriais e de estilo. O livro é muito bonito editorialmente falando, estruturalmente falando em relação a narrativa e ainda mais em seu conjunto. Personagens fortes, história marcante, verídica ou não, facílima de ser aceita pelo leitor.

Para começar falemos da narração e estrutura de capítulos e editorial, se posso dizer assim: a morte narra a história por motivos que você descobrirá no final. Ela é como uma velha muito lúcida e culta contando algo para você, mas sem repetir muito, ela se intromete diversas vezes e uma maneira de se intrometer é o zigue zague que ela faz no tempo para contar cada coisa, isso nos aproxima de uma narrativa oral e ainda faz com que nos aproximemos dos personagens. Para ser exata, a morte  conta pra nós o final antes de tudo, o que demonstra que o final não é o mais importante e ainda faz com que o leitor se apegue a história, pois apesar de dizer o que acontecerá, não diz tudo.

Ainda dentro da narrativa que envolve livros, acima de tudo envolve a aprendizagem da leitura e da escrita de Liesel, e a morte acaba por colocar alguns verbetes e lembretes no meio dos textos e dos capítulos. Isso foi genial para mim, não sei se há muito disso hoje em dia, pois costumo ler mais literatura clássica ou neoclássica, mas de fato, inclui além disso os desenhos de Hans e de Max, os textos de Max entram com uma caligrafia de tinta de parede, fazendo a vez de aproximar-nos do lugar onde se desenrola, assim como a luta de boxe.

Isso pode ser genial, mas o livro vai além da narrativa, é um hibrido de narrativa poética em vários momentos, mas apenas com elementos de metáforas displicentes que mostram como o autor é delicado em seu escrever e na sua visão de sua história. Começa a nos dar a dica, a nos impor essa maneira de lidar com as comparações quando a morte começa a falar, antes de tudo, sobre as cores. Há diversas maneiras de qualificar as coisas, algumas estranhas demais outras delicadas à beira da emotividade, mas principalmente que arranham-nos para entendermos aquelas passagens, para termos em nossa pele ideal a sensação da própria morte em relação ao narrado e descrito.

Simplesmente lindo. Eu não esperava tanto, confesso, e me agradei por demais, mesmo com as falhas do filme. O livro tinha 2 palavras que não conhecia, e não consultei no dicionário. Amei isso. Poucos são os livros que o fazem hoje em dia, e não falo das mantidas em alemão. Aliás, a tradução é muito delicada e inteligente! Parabéns à Intrínseca.

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