Numa noite de sábado Matheus e sua irmã Maria Clara
estavam vendo televisão com a mãe, era um dia frio e passava um filme de
policial. Isso o deixava-os tristes, pois lembrava o pai deles. Já fazia muito
tempo que acontecera, ele foi morto em serviço quando estava em um tiroteio no
meio de um assalto.
- Mamãe, como será que o papai está lá no céu?
Matheus logo se irrita com esta pergunta, e pensa
“como crianças são idiotas”, olhando feio para a irmã. A mãe responde:
- Provavelmente olhando para você e cuidando de
nós.
Continuam
assistindo ao filme, e a mãe percebe que o Matheus ficou mexido. A menina
pergunta de novo:
- Me conta de novo, a história do papai?
- Mas agora, minha filha, vamos ver o filme.
Matheus levanta inquieto e vai para a cozinha.
- Por favor, mamãe. – ela corre para a estante e
pega o álbum mais antigo da família, com fotos de namoro de antes de Maria
nascer, entrega a sua mãe que pensa no filho. Matheus está na cozinha inquieto,
pois sente muito a falta do pai.
- Aqui vocês dois eram namorados? – aponta a
primeira foto enquanto pergunta.
- Não, nós éramos amigos. A gente se conheceu no
ônibus, você acredita?! Essa foto foi tirada no ônibus quando viramos amigos.
- Ah, mas qual foto é de vocês como namorados? –
chateada pergunta a filha.
- Nesta. – diz virando a folha e apontando uma foto
onde se abraçavam – Esta foi tirada assim que eu aceitei namorá-lo! A gente
tinha quase dezoito anos. Ele estava prestando concurso para ser policial.
Matheus, está tudo bem, meu filho?
- Não estou achando a bolacha de chocolate! – diz o
garoto tentando disfarçar. Porque as crianças tem que ser tão intrometidas? Ela
nem se lembra do pai, ele era uma lembrança só da mãe e dele.
- Quando você casou com ele?
- Ah, depois de dois anos, ele já estava na polícia
e conseguimos construir esta casa no terreno de meu pai. – fala a mãe com a voz
embargada. Aquilo era muito difícil para ela.
- E essa aqui, onde foi?
- A gente tinha viajado para a praia. Viu como a
mamãe era bonita? E o papai também?
- Mas porque o Matheus não foi com vocês?
- Por que ele ainda não tinha nascido, ele nasceu
no ano seguinte. Veja aqui a minha foto grávida dele.
- Mas a senhora ficou gorda!
- Mas a senhora ficou gorda!
- É claro que fiquei! Tinha outro ser humano dentro
de mim! É assim que você vai ficar quando tiver meu neto, depois de casar!
- Ah, mãe! Eu não quero! Credo!
- Na cozinha Matheus riu-se com a ingenuidade da
irmã e resolveu voltar para a sala. A mãe ficou contente e demonstrou isso para
ele com um sorriso.
- Tem foto dele criança?
- Aqui, ó! Ele tinha acabado de nascer, você se
lembra dessa foto, Matheus?
Ele olha e não responde, não quer ficar triste.
- Ele era tão pequeno, mamãe! Matheus, como foi que
cresceu tanto?!
- É porque eu puxei ao papai. – responde o garoto,
relutante.
- E eu? E eu? Tem foto minha dentro de você?
- Mas não dá para me ver!
- Você está dentro da barriga.
- Credo, mãe! Tem mais foto do papai?
- Tem essa aqui, que adoro. – era uma foto de um homem alto, moreno,
cabelo curto no estilo de exército, com uns óculos escuros iguais aos de
policiais da televisão. Ele estava ao lado de uma moto da policia e todo
fardado. Era muito bonito e forte.
- Ah, não dá para ver direito. Quando ele morreu?
- Você tinha dois anos, e seu irmão 10. Já faz
muito tempo. Ainda sinto falta dele.
- Mas como foi que ele morreu mesmo?
- Ele estava trabalhando. Era um assalto, e começou
um tiroteio, seu pai foi atingido bem no pescoço, não conseguiram salvá-lo a
tempo.
Todos ficam desolados, e continuam a ver televisão
em silêncio, cada um sentindo a sua dor do seu jeito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário