- Carlos! Você se
atrasou! Estou faminta. – diz Solange, entusiasmada por seu marido chegar e
prever o jantar. Ela o abraça amorosamente e lhe beija a boca com um selinho
estalado.
- Desculpe, amor, o
ônibus demorou muito. Vamos lá?
- Espere, venha conhecer
o mercado! Essa aqui é a Janete, ela reveza o banheiro dos caixas.
- Prazer. – diz Carlos
para a garota simpática que lhe acena com a cabeça, enquanto conta notas no
caixa.
- Venha amor, vou te
levar lá no fundo, a gente vai levar as coisas em sacolas, pois a caixa é muito
pesada, graças a Deus.
- Por que graças a
Deus?
- Pois veio arroz,
feijão, farinha, farofa... tanta coisa que eu pensei em fazer um almoço
especial, se eu receber sexta eu vou comprar um pouco de frango para a gente
fazer assado.
Ambos se dirigem ao
vestiário, enquanto Solange tagarela impulsivamente, ela parece feliz. Ou não
entende o que acontece. “Acho que foi isso que me encantou.”, pensou Carlos,
ele a amava muito. Já a conhecia antes da morte de Suzana, mas nunca a vira daquela
maneira.
Quando tudo aconteceu
ela foi muito solicita, estava trabalhando como sua secretária havia pouco
tempo, pois a Juliana estava de licença gestante. Ele não sabia o que fazer,
pois foi neste período que eles perderam Madalena, sua primeira esposa e mãe de
Stephanie. Ela se mostrou muito competente e o apoio emocional que ele recebeu
dela, assim como a Stephanie, aos seus oito anos, fora algo que nem da família
dele ele tivera. Que todos se danassem, estavam bem longe dali e de tudo o que
ele conquistara... e perdera.
Ele a amava, mas ela já
o amava antes disso. Ela diz que sabia que ele seria seu homem. Ela diz que foi
uma vidente quem falou. Só faltou dizer o nome dele. Ela não era vulgar, era
uma secretária dedicada e quando ele descobriu seu sentimento por ele, ele já
havia se apaixonado. Ela não dava na cara.
Ela era pobre e
discreta, melhor que qualquer uma daquelas que tentaram separá-los nos anos de
namoro. Ela provou que era uma alma branca e pura, mas neste momento de dor ele
não sabia se isso era assim ou se ela era uma estúpida. Talvez o amasse mesmo.
Ela não merecia nada daquilo, mas o amor dele é algo que não se pode calcular.
Ela ama mesmo.
-Amor, ajude-me aqui! –
chamou Solange, tirando-o das memórias boas, que se mesclavam à dor do momento.
- Oh, sim, vamos
distribuir em pequenas sacolas, para poder carregar, mas leve a caixa, pois
podemos utilizar para alguma coisa.
Em casa, montam a caixa
e deixam as sacolas dentro dela, está tarde e Solange perdeu a fome, eles vão
se deitar.
Vinte minutos depois a
porta do quarto de Stephanie abre e range, ela faz cara de quem não gostou do
rangido, que poderia denunciá-la. Mas ninguém se mexe na casa, a não ser ela.
Dirige-se devagar e silenciosamente para a cozinha. Lá ela farfalha as sacolas
na caixa e encontra um pacote de bolacha recheada. Era do mesmo tipo que davam
na escola, mas só tinha comido uma vez. Era gostosa. Corre com o pacote para o
quarto e come como se não houvesse amanhã. Esconde o pacote na bolsa para
ninguém ver e pretende jogá-lo no lixo da escola.
No dia seguinte Solange
entraria mais tarde, pois uma moça do outro horário estava doente, ela a
cobriria, vai então fazer o café e para isso sonda as sacolas e percebe que não
tinha mais o pacote de bolacha, sorri feliz, sabe que no fundo Stephanie é só
uma garota em uma fase ruim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário