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19 de dez. de 2013

Peter Pan, o livro: decepção para a geração Disney

Terminei de ler o livro hoje e tenho muitas observações a fazer e hão muitas linhas de pesquisas que seriam interessantes de seguir, até mesmo para mostrar a visão do autor para a família de seu tempo, onde as mães são superprotetoras e não dizem não e os pais são infantis e se auto flagelam culpando-se por coisas que estão além de seu controle.
Os Darling são pais muito imaturos e amorosos, não posso negar, mas as sua caracterização durante toda a obra demonstra pais sem qualquer controle emocional além daquele que as crianças conseguem fazer, trazendo suas imagens para o mesmo patamar de uma criança qualquer do livro. Claro que tudo isso vem da visão de um narrador quase dionisíaco, se não o próprio Pã, segundo algumas releituras deste ser mitológico ou mesmo adaptações desta personagem.
De fato não há como presumir a idade do narrador, que deixa claro estar falando com crianças, e não como criança, mas não há como saber sua idade, pelo menos eu não tenho como.
O que me deixou mais horrorizada (é, esta é a palavra) foi a diferença do que eu sabia sobre o Peter e o que ele realmente é no original (para mim será agora o do original, revelando faces que eu não entendia antes no Peter da Disney). O que me horroriza talvez seja o fato de eu ser muito encantada com o Peter, nunca quis ser sua Wendy, eu queria ser o Peter (crianças não ligam para sexo, pena que cada vez mais a idade da criança se restrinja aos 5 anos em nossa sociedade). Eu sonhava que era o próprio Peter, eu voava e voava... era maravilhoso, lembro dos sonhos até hoje, de tão encantadores e satisfatórios que eram, apesar de involuntários.
Que seja, no livro encontro um Peter muito mais novo e com seus dentes de leite. Um Peter psicótico e sociopata, além de bipolar. A Terra do nuca é terrível, com suas ameaças muito reais e sempre em relação à vida. A vida dos órfãos não é nada divertida quando Peter está perto, e se ele não está, divertir-se é possível se você estivesse muito atento à possibilidade de ele estar perto, pois sua imagem gera sempre medo nos garotos perdidos.
Ele é como um ditador, como um sequestrador. Ele lembrou-me o Hitler e a psicopatas de vários filmes. Claro que em um ambiente limitado e com desejos e poderes igualmente limitados.
A maneira de o narrador descrever os piratas como Smee, por exemplo, assusta! Parece alguém que é de alta educação falando da dualidade das características doces de um assassino cruel. Talvez seja um dos pontos que me deixou mais certe de que se meu filho (se vier) for ler esta obra, será quando for muito pequeno ainda ou já adulto pois só a inocência e a maturidade para mostrar a realidade do que está sendo dito e não deixar passar pela cabeça que o certo é ser um assassino bem educado. Um Lecter. Amo-o, mas como personagem e na sua condição de perseguido, preso e aliado da polícia em jogos psicológicos. NÃO A DE ASSASSINO, como parece que o narrador adira Smee e os outros piratas.
E aqui posso falar que o narrador trabalha com a dualidade estreita entre as regras de convivência e educação e o limite da violência e homicídios. A sininho simplesmente engana os garotos para matarem Wendy por ciúmes, o capitão simplesmente mata o pirada na caçada ao Peter por insolência, visto que ele é muito mal. Muito mal? Ele é um assassino, assassinos não são educados, mas Gancho é. Smee é, e além de tudo sua imagem gera simpatia, ele mata sorrindo e assim vai...
A contagem de Sabido na carnificina realizada pelos jovens é como um filme de terror, e não há piedade nenhuma da parte das crianças. Gancho foi condescendente em não matar o Peter, que já não se importou nem um pouco de ser mal educado ao lhe chutar para a boca do crocodilo, que representa o fim da vida.
Li algumas resenhas e ser um demônio, um deus mitológico ou qualquer outra coisa não faz Peter mais viável. Claro que podemos fazer as analogias dos estereótipos de yung e reconhecer diversos deles que representam os extremos dentro do medo de envelhecer e o que poderia acontecer se não envelhecêssemos.
Estereótipos familiares, esterereótipos como os indígenas, que fazem parte do ideário americano de forma ímpar, de piratas que representam a luta e a rebeldia, e de crianças órfãs, que não têm que dar nenhuma satisfação. Tudo isso está ligado à como as crianças veem a realidade, elas brincam para internalizar as regras sociais e nascem violentas e brancas como uma folha de papel, prontas para serem nelas impressas conquistas sociais que a farão um homem de caráter, um psicopata, um guerreiro, etc. A maldade é ponto de vista, é cultural, o ato da maldade (de fazer o que não é bom aos olhos daquele grupo em que se insere) só pode ser interrompido quando se entende o que ele representa ali e quais são os seus resultados para o agente e a vítima.
Pensar assim faz com que tudo pareça mais normal dentro desta história onde os modelos sociais são todos deturpados e maus, porém não acho que e distancie do país das maravilhas e das crônicas de narnia para o fato de uma criança ler. Os filmes da Disney deixaram tudo bonitinho (ou quase tudo, até hoje não supero a lagarta fumante e seu “Who are you?”), já o do narnia (não li ainda, mas está na fila) é terrível, assustador, e se o livro for nessa linha, deve ser muito pior.
Será que se a Disney não tivesse adaptado, a minha geração seria diferente? Será que se a Disney tivesse escolhido outras formas que não os musicais, teria enredo para garantir o tempo do filme, com tantos cortes e desvios? Será que eu gostaria tanto assim do Peter Pan? Você já viu o “Labirinto do Fauno”? É...
Cada vez mais eu fico chocada com a literatura considerada infantil... “O pequeno príncipe” não é infantil, gente, vamos rever essas coisas, nossa cultura mudou, cuidado com os clássicos que dá para seu filho ler... pois se acha que “A lenda do cavaleiro sem cabeça” era um livro forte para ler para uma quinta série, não está muito por dentro desta linha literária, posso dar um spoiler a mais aqui: no livro do cavaleiro ninguém morre!!!!
Leia antes de tudo. Antes do filme, antes de gostar, antes de crianças lerem.

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